quarta-feira, 9 de maio de 2012

Meu carro

Não, não falarei aqui do meu primeiro carro. Vim falar do seu primeiro carro.
Vim falar do seu próximo carro. Vim falar francamente com você, meu leitor. Uma agradável conversa de boteco.
Por que eu estou falando isso? Simples. Todos os dias somos bombardeados por mais e mais anúncios de carros. A cada momento, a mídia joga em cima de nós toneladas de lixo que têm por objetivo fazer com que acreditemos que aquele carro é bom, que aquele carro é mais rápido/veloz/bonito/confortável.
Enfim, somos atacados pelos mercadólogos com seus comerciais de TV, anúncios em revistas e lindas mocinhas distribuindo panfletos sobre os carros de certa marca. Somos compelidos a jogar no lixo, carros que às vezes até têm nos servido bem e que não temos um motivo para estar nos desfazendo dele.

Sim, nós que criticamos tanto os americanos por serem consumistas inveterados, estamos seguindo pelo mesmo caminho tortuoso e pelo mundo de frivolidades que fazem com que tenhamos quase um desprezo por tudo que não seja absolutamente novo e reluzente.

Com os carros, acontece desde sempre: nós homens, somos atraídos por aquela figura metálica. Quase desejamos uma fusão homem-máquina que nos torne seres diferenciais. Algo quase selvagem. Uma sensação primitiva. Carros, para muitos, são como uma droga. Para as mulheres, nem tanto. Elas são guiadas pela razão e pela praticidade. É incrivel como elas conseguem cair nisso. Não deveriam.

Mas não imagino estar falando isso para um gearhead/petrolhead, que, assim como eu, ama carros, independentemente de serem novos os antigos. Eu vejo num pedaço de metal enferrujado, potencial de ser muito mais além de um peso de papel que apodrece à mercê do tempo.
Faço esse texto com a autoridade de quem convive com os amigos e analisa a relação entre seus donos e carros.

Há um tempo, não muito, o Brasil era uma país fracamente motorizado. Ao contrário de países do exterior, como Grã-Bretanha, EUA, Japão, Itália e Alemanha, nós vivemos uma contradição de mercado: ao mesmo tempo que nosso poder aquisitivo aumenta, não conseguimos nos livrar dos populares. E antes que venham com tochas acesas, querendo arrancar meu couro, ouçam: não sou contra carros populares. Muito pelo contrário! Sou totalmente favorável a eles. Mesmo assim, o tempo dos populares passou e ninguém disse isso para a ANFAVEA.
Esses veículos (ditos populares) viveram seus tempos de glória em momentos que as nações precisavam de automóveis robustos, simples, confiáveis e, acima de tudo, BARATOS. Com o fim da necessidade de se motorizar o país, os governos e indústrias mudam o foco de seu investimento para carros cada vez mais aperfeiçoados, melhores e mais caros, seguindo o gosto da população. Mas isso não tem acontecido no Brasil.

Sempre fomos julgados por nosso eterno atraso. Mas o que fazemos para tirá-lo? Muito menos do que poderíamos. A verdade é que não fazemos praticamente nada. Dia desses eu estava perambulando pelo Shopping e vi um carro de 60mil reais num estande. Bonito por fora, reluzente e tal. Abri a porta, muito conforto e modernidades aparentes para o motorista...Mas calma lá! O que é isso? Argh! É plástico...Duro que parece uma lixa!!!! Pera aí...Deve ser a versão básica do modelo, né? Mas porra, por 60mil, não dava para fazer um interior mais agradável? Tudo bem...Vamos ver..Quanto ele faz? 8:1 na cidade. Hum...bacana! Exceto pelo fato de que um motor V8 moderno faz o mesmo, entregando meio milhar de pocotós nas rodas e com o ar ligado!!! Vamos ver...Ele é flex? Sim, é flex!!! Tá, mas e daí? Como a cotação da cana está alta demais, não compensa usá-la, assim, não preciso ter um carro que rode com dois combustíveis, se o outro não me interessa! Muitos que compram o flex nunca usaram outra opção de combustível.
Ah, eu disse que o motor é só 1.6?

Pois é. Fico besta como as pessoas querem tirar onda comigo, que ando com um automóvel defasado 20 anos e que tem um desempenho melhor e é mais confortável. Por mais estranho que pareça, meu carro no mercado, é mais barato que um popular. E tem quem prefira um carro zero(de tudo)!!!!
Tá que o cheirinho de carro novo é gostoso(mas pouca gente liga pra isso). Tá que ele é coberto por garantia(e se ele passar a dar problema direto e reto após o fim do prazo?). O popular vem com uma direção duríssima (não tem como não ficar suado numa baliza). Ele vem com um interior medíocre(painel simples demais, revestimento pobre...). Os bancos são duros. "Ah, mas o consumo é pequeniníssimo!!!!". Vamos comparar: um Uno 1.0 faz 14,3:1 na cidade(dados da Fiat). Só que, na Quatro Rodas de 1990, ele cravou 11,52 km/l. Gente, em mais de 20 anos, ele melhorou míseros 3 km/l! Se você achar que isso é um consumo baixo, eu lhe apresento o VW Polo 1.2. Ele faz 26,3km/l usando diesel. Tudo bem, os motores turbodiesel não podem ser usado no Brasil. Vamos para a versão à gasolina: 17,24km/l. Ah, eu disse que é equipada com motor turbo de 1.2l? Será que mencionei que o Polo de lá vem com um sistema que desvia o facho dos faróis em curvas? Pois é: um carro de classe superior, muito mais bem equipado e com consumo proporcionalmente mais baixo. Nem vou comparar com o Polo daqui...

A questão não é ridicularizar o Uno, nem o Fiesta(velho ou "New"), mas acordar você, consumidor. Há anos, você sai com aquela cara de satisfação de uma concessionária com seu carro zero, levando algo que vale muito mais do que realmente é, acreditando que tem algo moderno, robusto e econômico. Esqueça: você levou algo que está aquém do valor pago!

O conto de fadas acabou.

NdA: todas as fotos são de carros populares de outros países. Pense nisso antes de assinar o próximo cheque.

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