quinta-feira, 29 de março de 2012

A boa formação dos motoristas

Bom, vim contar como eu fui formado como motorista e porque eu não virei um "tarado do volante" como tantos ficam após um tempo de carteira.

1-Precedentes
Na época, eu devia ter uns 22 anos. Era universitário, fazia meu curso de engenharia normalmente(ou seja, vivia estressado). Diferentemente dos meus colegas de turma da UFES, eu não ligava para tirar carteira,pois eu não tinha um carro: era como comprar camisinha, sem ter uma menina com quem usar o preservativo, ou como ter um celular sem bateria. Enfim, apesar de adorar carros desde fedelho, sem ter rodas, tirar a carteira não me interessava nem um pouquinho.
Mas aí, veio meu pai e, com um sacrifício sem paralelos, comprou um carro para mim, a fim de parabenizar-me por estar fazendo engenharia e me esforçando para terminar o curso.
Feliz como fiquei, saí com ele por várias semanas para tentar achar o carro que eu queria. Após 4 meses de buscas, achei meu adorado carrinho. Foi amor à primeira vista. Pode parecer piegas para quem não gosta de carros, mas rolou aquela sensação de que o motorista escolheu o carro e o carro escolheu o motorista. Test-drive feito, analisado o carro, arrematamos o "possante".
Agora eu PRECISAVA tirar a carteira à todo o custo.

2-A procura pela Auto-escola ideal
Constatando que eu tinha dinheiro para fazer um curso de motorista, corri para a lista de CFCs, a fim de escolher um ideal para mim. Não queria um garboso, com material de ponta. Pra mim, tanto fazia dirigir um Celta, um Uno, um Corsa, ou um Ka. Não interessava, se a escola ia oferecer quadro negro e giz, quadro brando e caneta, ou tela e um projetor. Infra-estrutura ajuda, mas não é tudo. Nem o fato de ser perto ou longe de casa. O que importava pra mim, era aprender bem as leis e regras de trânsito.
Perguntando a meus pais e amigos, acabei escolhendo o CFC Planeta, já que meu pai é um motorista formado lá(há muuuuuuuuuitos anos) e ele é um exemplo de bom comportamento no trânsito.
Entrando em contato com a instituição, fiquei a par das taxas e procedimentos. Acabei acenando positivamente para a inscrição(salgada) e o pagamento das mensalidades(salgadas também).
Apesar dos preços não muito amigáveis, não tinha pra onde correr e a vontade de pegar no volante do carro que era meu e eu não podia dirigir era muito grande. Sem alernativas viáveis de horários melhores, comecei a estudar lá à noite.

3-A turma
A turma era bem heterogênea: havia uma loira gatíssima da Praia da Costa, mas havia também senhores, senhoras, futuros motoboys e outras moças e rapazes.
Apesar da heterogeneidade, a maioria da minha turma queria tirar carteira A/B: a perspectiva da dupla formação e de ter mais opções é realmente muito atrativa. Eu, no entanto, nem pensei em tirar carteira A(nem mesmo a ACC) por um motivo simples: não confio em veículos nos quais eu sou o pára-choque.
Como sempre: há os interessados e a turma da bagunça, embora ela não faça bagunça propriamente dita(já que é burrice pagar R$500,00 para brincar).
Enfim, nunca conheci profundamente ninguém da turma, mas estava na cara que muita coisa já começava errada: havia um rapaz que dirigia há anos sem carteira e que foi às aulas de carro e até me ofereceu carona inúmeras vezes. Óbvio que recusei: melhor a segurança das minhas pernas à insegurança de um carro com um desconhecido que nem qualificado para dirigir está.
Quer dizer: a coisa começou errada já na auto-escola. Imagino que ela devia ter falado pro cara que isso não só é errado como deveria ser um comportamento a ser reprovado. Mas ninguém liga: dinheiro na mão? Então está bom! Como ele, devia haver outros na mesma condição, pois poucos usavam ônibus, caminhava, usavam bikes ou recorriam a caronas.

4-Infra-estrutura
O CFC funcionava num prédio alugado, durante as primeiras aulas teóricas(hoje é uma igreja crente). Posto numa área mal-iluminada, era meio rabo de foguete ir pra lá e voltar à noite, mas como sou pobre mesmo, capaz de eu assaltar um eventual assaltante...
Com as salas spearadas por biombos, era claro que a escola não iria ficar lá por muito tempo. Dentro da sala de aula, um quadro negro, giz e cadeiras bem desconfortáveis. Enfim, anda muito diferente do que eu tinha de enfrentar no CT3 durante os primeiros anos de curso.
Depois, a gente se mudaria para o prédio definitivo da escola, perto do DPJ de Vila Velha(nada como uma agradável vizinhança).
No novo prédio, salas melhores, bebedouros, cafezinho(também estavam disponíveis no prédio provisório). Como eu fui pra lá bem no finzinho da formação teórica, nem "aproveitei" nada. O que não fez grandes diferenças, no fim das contas também.

5-Aulas teóricas, material didático e professores
As aulas eram baseadas num livretinho de 104 páginas impresso na própria gráfica do CFC. Divididas em Legislação, Direção Defensiva, Primeiros Socorros, Meio-Ambiente/Cidadania e Mecânica, as aulas durariam algumas semanas(nem lembro mais quantas aulas foram...).
A própria divisão do livretinho é feita de acordo com a importância dos temas segundo o simulado teórico do Detran:
  • 40,2%-Legislação
  • 12,7%-Direção Defensiva
  • 15,7%-Primeiros Socorros
  • 10,8%-Mecânica
  • 5,6%-Meio Ambiente
  • 4,9%-Cidadania
Pelo visto, cidadania não interessa a ninguém...
Os professores eram divididos entre as disciplinas:
  • 1 para Direção defensiva
  • 1 pro resto...
O professor de direção defensiva lembrava muito meu pai: devagar nas explicações, paciente e metódico. A aula dele, embora imprescindível para construir bons motoristas, dava um sono arretado.
Mas, calma lá! Nada do que me foi dito na aula de direção defensiva é novidade. Não buzinar que nem um retardado, sem motivo, nem impedir uma ultrapassagem...Nada de encoxar o carro da frente, e nem ser agressivo. Todos sabemos que não precisamos de aulas para saber isso. Se você precisa, então sua família não te ensinou nada de valores.
As demais aulas eram maçantes também. Não por serem intrinsecamente chatas(tá, a aula de infrações, punições e medidas administrativas é um porre, mas não é esse o ponto que quero enfatizar). Mas as aulas não costumavam adicionar nada para mim, pelo contrário: eu as achava extremamente superficiais. Para mim, não era possível a formação de um motorista ser tão superficial e falha...
...mas era!
O que eu queria ter visto, eram situações reais e como proceder para evitá-las(as famosas medidas de mitigação), mas isso foi sumariamente ignorado à época.
As aulas de mecânica são uma farsa, pois não ensinam nada que realmente preste. Não, não quero um curso nível SENAI, mas queria saber como consertar pequenos probleminhas com o carro no dia-a-dia sem ter que ligar para o seguro. Queria um curso de mecânica que me desse uma base mínima para contradizer um mecânico/eletricista meia-boca, que quisesse me enrolar...Mas o dia-a-dia não parece interessar as auto-escolas e nem o Detran. Só quem não sabe NADA de mecânica, iria achar as aulas dessa disciplina minimamente instrutivas.
As aulas de primeiros-socorros foram igualmente uma substancial perda de tempo, já que o princípio básico é: em caso de acidente(onde você, naturalmente não é a vítima), estacione o carro em lugar seguro, sinalize à distância adequada, cheque o estado dos feridos e a condição dos veículos e não os remova, a menos que seja uma codição de perigo real e imediato para os envolvidos.
Ah, claro, ligue pra 190/192/193... Decorou? Demorou uns poucos segundos, né? Precisei de uma aula inteira para me passarem isso.

6-Simulados
Eu não sabia o que esperar da prova. Seria fácil? Seria difícil? Seria Impossível?  Bom, impossível não deve ser, já que há muitos motoristas nas ruas e o povo brasileiro não deve ter média de QI batendo em 150. Fui ao site do Detran para fazer um simulado.
Sabia que eram 30 questões. Pus na cabeça que, cada dia de curso teórico(mais os sábados e domingos), eu faria 4 simulados consecutivamente. E assim fiz, desde o primeiro dia de aula teórica.
Honestidade, a proiva do Detran é ridícula, de tão fácil. Somente não estudar absolutamente nada, passar mal ou ficar nervoso seriam motivos suficientes para você não passar nessa prova.
Como a faixa de corte é de 22pontos(eu imagino), nunca me preocupei realmente com ela, já que durante os testes online, eu nunca fazia menos de 27 pontos(mais nunca cheguei a fechar nenhuma prova(mais por desatenção).
Enfim, a prova teórica é a coisa mais idiota do processo de preparação de um motorista(o que não deveria ser).

7-Prova psicológica e de condicionamento
A prova de saúde, mede apenas se você não é surdo, daltônico e se tem problemas de visão. Mole, mole...
O teste psicológico devia ser o que mais reprova os motoristas(antes mesmo da prova teórica). Mas, por incrivel que pareça, ele mede mais a coordenação motora e o raciocínio sob condições normais(em vez de ser submetido sob severo estresse. Como Nunca vi ninguém ser reprovado aqui e vejo motoristas com agressividade cada vez maior nas ruas, só me ocorre que esse teste é uma imensa perda de tempo e dinheiro nosso, pois não filtra adequadamente nada e nem ninguém.

8-Prova teórica
A minha, fiz no Colégio Vasco Coutinho mesmo. Era de manhãzinha, no sábado. Não me estressei, pois sabia o que viria pela frente. Como de costume, só perguntas simples, com alternativas totalmente imbecis em 80% dos casos.
Para minha sorte, não caiu nenhuma questão das de punição, medidas administrativas e etc, afinal é pura decoreba(coisa que abomino).
Fiz a prova em uns 20 a 26 minutos e fui em bora. Sabia que não iria fechá-la, pois, provavelmente deveria ter sido desatento em algum ponto, mas nada que me reprovasse.
Mesmo assim, no dia em que o resultado do exame saiu, estava com aquele detestável frio na barriga.
Resultado: miraculosamente, eu fechei a prova(até hoje, não consegui repetir a façanha nos simulados).

Continua, com as aulas de direção e a prova prática.


NdA: Ainda carrego o livrinho da auto-escola no porta-luvas do carro.

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